Beatificação irmã clemência

Irmã Clemência poderá ser a segunda cearense beatificada pela Congregação para as Causas dos Santos. É o tribunal do Vaticano que formaliza os novos santos e beatos da Igreja Católica Apostólica Romana, rastreando as devoções espontâneas dos altares populares. A primeira da lista deverá ser a Menina Benigna, de Santana do Cariri, que viveu de 1928 a 1941 – seu caso tem a burocracia eclesial bastante adiantada. Clemência hoje é uma Serva de Deus, o reconhecimento de uma primeira etapa que pode levá-la à canonização.

Em vida, a vicentina cearense teve o trabalho muitas vezes comparado ao da baiana Irmã Dulce, de ajuda aos pobres e desamparados de Salvador, também em assistência médica e distribuição de alimentos e abrigo. Dulce será canonizada pelo papa Francisco no próximo dia 13. O processo religioso de Clemência foi aberto em 1995. Foi apresentado pelo então arcebispo de Fortaleza, cardeal Aloísio Lorscheider,indicando sua beatificação. Estendeu-se até 2010, concluído na presidência do cardeal dom José Antônio Aparecido Tosi Marques. Sua condição de Serva foi reconhecida por unanimidade, ao analisarem sua fama de santidade. Era uma etapa ainda diocesana.

Na fase seguinte, que passou a ser conduzida a partir de Roma, foram examinadas as 14 virtudes heroicas: Fé, Esperança; Caridade, Amor a Deus, Amor aos irmãos, Prudência, Justiça para com Deus, Justiça para com os irmãos, Fortaleza, Temperança, Pobreza, Humildade, Obediência, Castidade. Em latim, Super virtutibus et fama sanctitatis. Foram aceitas, mas o protocolo ainda tem regras para elevá-la à condição de venerável.

“O processo no Vaticano requer uma documentação específica. O que está pendente hoje é o Positio. Esta é a fase atual”, explica o professor de Filosofia Moisés Rocha Farias, estudioso da vida de irmã Clemência. O Positio é o estudo elaborado por um teólogo, que se debruça em pesquisas para dizer se as virtudes são verdadeiras ou não, até sugerir a beatificação. É como uma tese de doutorado. Só este parecer pode gerar custos altos com viagens, análises presenciais, coleta de documentos e depoimentos. O processo esteve parado na Santa Sé e também será necessária uma petição para restabelecer o caso.

“O trâmite é semelhante a um processo judicial”, explica o professor, que é membro da Academia Brasileira de Hagiologia (Abrhagi), dedicada ao estudo dos santos. Rocha ocupa justamente a cadeira número 5 da entidade, que tem Clemência como patronesse. Se o processo seguir, um primeiro milagre reconhecido e Clemência será beatificada. Um segundo milagre, nas mesmas condições de inexplicável, imediato e constante, e será ungida, elevada ao sagrado. Canonizada, estará santificada nos altares oficiais.

Os dons da caridade

Religiosa vicentina nascida em Redenção, Irmã Clemência pode ser a segunda beatificada cearense. Seu processo está em Roma e aguarda confirmação das virtudes heroicas. Os feitos de bondade são contados em Fortaleza, Pacoti e Baturité, onde teve sua passagem mais marcante atendendo as mazelas dos mais pobres

Cláudio Ribeiro (textos) [email protected]
Júlio Caesar (fotos) [email protected]

Irmã Clemência foi filha da Caridade de São Vicente de Paulo. Era uma freirinha franzina, nascida em Redenção, no Ceará, em 1896, que viveu até 1966, já perto de completar 70 anos. Em casa, era “Benecinha”, Francisca Benícia de Oliveira, a primogênita de 13 irmãos.

Escritos do confrade vicentino Murilo Alves Bessa e da irmã Elisabeth Silveira, da mesma ordem, falam de muitas obras de bondade, atos de caridade e o exercício do dom de cura, praticados entre Fortaleza, Pacoti e Baturité, por onde ela esteve em 47 anos de vida religiosa. Foram oito meses de noviciado no Rio de Janeiro e logo Benecinha vestiu o traje de sua vocação: o hábito e um chapelão branco que a caracterizavam.

Há mais virtudes de Clemência sendo investigadas pela Igreja Católica no processo de beatificação que tramita no Vaticano. A história a seguir é contada em relatos biográficos como um feito de milagre.

Os anos foram apagando nomes de personagens, datas e confirmações. Já tarde da noite em Baturité, a ocorrência policial era de um homem esfaqueado, agonizando, levado para o chão da delegacia local. O intestino exposto como estava, era certo que não resistiria. Não conseguiam ambulância para levá-lo até a Capital nem um médico àquela hora. O delegado lembrou de chamar a freira.

MEMORIAL irmã clemência

MEMORIAL – Há um memorial para Irmã Clemência no local onde funcionava seu ambulatório. É aberto a visitações. Há fotos, pertences pessoais e vários instrumentos hospitalares do tempo dos seus atendimentos (estufa, cama, roupas, livros, escrivaninha.